Sólon do Valle

Publicado em 01/10/2004 - 00h00

Vejo uma enorme diferença entre profissão e carreira, sobretudo no mundo do Áudio. É, possivelmente, tão importante quanto a diferença entre talento e vocação, embora não se possa, a rigor, traçar um paralelo.
Profissão é aquilo que está dentro de nós, genético, com que já nascemos. Não há como fugir da profissão: se você nasceu para ser do Áudio, ao Áudio você pertence e não será feliz em outro negócio. Isso é tão forte, tão inexorável, que é comum vermos biólogos, geógrafos, economistas e advogados se tornarem competentes e dedicados profissionais de Áudio. A genética é incontrolável.
A carreira é administrável; é algo que, embora dependendo direta-mente da personalidade do sujeito, pode ser conduzida, e até corrigida no caminho. Uma carreira dita bem sucedida pode até existir sem que haja excelência profissional. Muitos políticos são exemplo disso: recebem salários elevados, são nacionalmente conhecidos, têm eleitorado garantido pela vida toda mas, na realidade, pouco fazem pela nação ou pelo povo. E nós os xingamos de carreiristas.
Os grandes profissionais são outro papo. Podem nem ficar ricos - sua riqueza está, como diz o velho clichê, no reconhecimento dos outros profissionais. Sobrepõem a profissão à carreira. Se um excelente negócio não se enquadra em seus conceitos técnicos ou éticos, preferem perdê-lo a violentar seus ideais.
Não estou aqui para julgar ninguém, mas manifesto minha simpatia pelos que fazem da profissão a meta de vida. Sou do tipo que se sente mais feliz com a consciência de um trabalho bem feito, de ter contribuído para a coletividade, do que de ter muitos milhões na conta e muitas dívidas consigo mesmo.
Penso que uma bela e bem sucedida carreira é possível e merecida, se for baseada puramente em muito trabalho e profissionalismo.