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Revista Luz & Cena
Mercado
Técnicos de Monitor
Trabalhando em Conjunto com o Profissional de PA
Christiane Jordão
Publicado em 01/01/2001 - 00h00
João Ribeiro
João Ribeiro, técnico de monitor do Gilberto Gil (João Ribeiro)
João Ribeiro, técnico de monitor do Gilberto Gil
Técnico de monitor: responsável pelo som do palco, que pode resultar na boa ou má performance do artista. Uma das prerrogativas necessárias para que o trabalho do técnico de monitor se desenvolva bem, é ele estar sempre em harmonia com o técnico de PA. O som do público não deve atrapalhar o do monitor e vice-versa. Segundo o técnico Cláudio Coutinho, "o relacionamento do PA com o monitor tem que ser como um casamento. O ideal é que eles tenham a mesma mentalidade e forma de trabalhar".
Com o avanço da tecnologia, o monitor (caixa acústica) está perdendo espaço para o in-ear phone, que proporciona uma maior mobilidade para o artista e resolve problemas, como a má acústica do local. Mas segundo Jackson Silva, técnico de monitor de Djavan, nenhum fone substitui um bom monitor.


  A Profissão

Para Cláudio, o técnico é o camisa 12 da banda, como se fosse mais um músico. "O bom técnico tem que aprender não só a música com a qual está trabalhando, mas também a intenção do artista e sua necessidade", diz.
O trabalho do técnico de monitor, segundo Cláudio, começa antes do início do show, com uma conversa com os músicos para se ter uma idéia do que eles gostam, da parte técnica e também da parte pessoal. Depois deve conferir a existência do material que foi pedido ou providenciar todo o rider. Em seguida, coordenar a montagem e a ligação dos equipamentos e seus respectivos testes, com a equalização dos microfones, alinhamento das vias e sistemas com os roadies, é indispensável, e por último a passagem de som, que é a mais trabalhosa, pois é nela que se acertam os volumes para a banda. Durante o show, o técnico acompanha a evolução das músicas e, se precisar, faz alguma correção.
Para ele, o técnico de monitor não tem que ser notado. A conversa inicial com os artistas é que faz a diferença na seqüência do show. "Eu fico muito feliz quando faço um show inteiro e ninguém  pede absolutamente nada, e na conversa final não tem reclamação", complementa.
Segundo Cláudio, a passagem pelo técnico de monitor seria o passo inicial para quem quer começar nesta área, pois, apesar de ser mais difícil e trabalhoso do que o PA, existem cinco ou seis pessoas no palco ajudando a melhorar o trabalho. "A cobrança do músico, um pedido, uma reclamação, com o passar do tempo vai se incorporando na sua técnica de trabalhar, o que te faz melhorar", diz.
Para Jackson, o técnico de monitor é mais um músico no palco, pois tem que estar em função do artista. O som do monitor vai fazer com que o artista tenha uma boa performance no palco, a partir do momento em que ele se sinta confortável com ele.
"Se você está chegando em uma banda nova, o ideal é que antes dela chegar o seu equipamento já esteja alinhado, no ponto em que a partir dali sejam ajustados apenas detalhes", conta.

Novas Tecnologias
João Ribeiro, técnico de Gilberto Gil, é adepto da nova tecnologia do in ear phone. Segundo ele, a banda toda só utiliza três monitores: um para o sanfoneiro, um para o baixista Arthur Maia e outro para o baterista Jorginho Gomes.


A cobrança do músico, um pedido, uma reclamação, com o passar do tempo vai se incorporando na sua técnica de trabalhar, o que te faz melhorar", Cláudio Coutinho

Já Cláudio Coutinho, que foi um dos primeiros operadores a trabalhar com uma banda inteira só com in ear, na turnê de Djavan "O Bicho Solto", considera qualquer ferramenta que possibilite crescer no trabalho válida. Cláudio, segundo ele próprio, é um rato de tecnologia, procurando estar sempre ligado em coisas novas.
Jackson da Silva vê no in-ear a solução para o problema das turnês, que são, principalmente, de acústica. "Turnês que teriam 20 shows, hoje podem ter 40, pois com o in ear você pode tocar em lugares que seriam acusticamente inviáveis para o músico ter uma boa performance", complementa. Mas para ele, o som do monitor não pode ser substituído pelo do fone.
No caso das mesas digitais, para Jackson, elas só funcionam se o técnico estiver viajando com o equipamento, pois o trabalho com ela demanda tempo, e é impossível, em sua opinião, chegar em uma passagem de som, duas horas antes do show, e acertar tudo. "Com a mesa analógica você pode chegar uma hora antes do show e aprontar tudo", explica.


  Unindo a Música ao Trabalho

Mas como será que o técnico de monitor ouve música? Será que é possível separar o gosto pessoal do trabalho? Ou há sempre um jeito de conciliar as duas coisas?

No caso de João Ribeiro, que tem como estilo musical preferido a MPB, não há problema em seu trabalho. Com Gil ele faz o que gosta, com a música que gosta. Mas se por um acaso não estivesse trabalhando com ele, e se pudesse escolher, gostaria de participar do trabalho de Lulu Santos.
Os instrumentos que ele prefere ouvir são o baixo e a bateria. O lugar reservado para ele escutar música é dentro do carro, com as caixas bem próximas e som baixinho.
Cláudio, que atualmente está na empresa de sonorização Mac Áudio, gosta de trabalhar com música brasileira, Edu Lobo, jazz e as orquestras sinfônicas (uma tradição da companhia, e de que sempre gostou). Com uma preferência por shows com uma sonoridade mais macia e baixa, na qual consegue perceber melhor as nuances da música, Cláudio prefere não assistir a um show de rock, por exemplo, que não lhe permite observar a técnica e a qualidade da música, "porque a primeira coisa que se percebe é uma irritação pela quantidade de volume", complementa.
Quando um técnico ouve algo novo e quer implementar no seu trabalho, nem sempre é uma tarefa fácil. Alguns músicos se expressam de uma maneira muito particular, unindo o que gostam com o que gostariam de ouvir. Se por um acaso o técnico achar que de outra maneira o trabalho poderia ser melhor, ele tem que tentar introduzir a sua idéia aos poucos. "Explicando o que você quer, através de um exemplo de outra música, de preferência alguma coisa de que ele goste, fica mais fácil", complementa o técnico da Mac Áudio.
Mas um técnico pode também mudar seu gosto, ou pelo menos ampliá-lo, de acordo com o seu trabalho. Jackson, que gosta muito de ouvir jazz, jazz rock e música instrumental, aprendeu a gostar de MPB. Como nos últimos tempos trabalhou com Maria Bethânia, com Ney Matogrosso e agora com Djavan, acabou gostando dessa área.
Os artistas possuem maneiras muito diferentes de trabalhar. Bethânia, por exemplo, segundo Jackson, é totalmente artística no palco, enquanto Djavan e Ney conseguem, na hora em que estão cantando, saber do que sentem necessidade ou falta. Bethânia é uma artista única no monitor, com quem Jackson aprendeu muito. "Durante o show ela isola a presença externa, com se ficasse possuída", complementa. O motivo de muita gente ter passado por ela e não ter ficado, segundo Jackson, foi o fato de não ter acompanhado o ritmo dela. "A passagem de som dela é exaustiva, pois ela não fica menos de uma hora, e passa cada detalhe, pois na hora do show não vai se preocupar com isso", argumenta. No caso do Djavan, segundo Jackson, ele, às vezes, nem vai à passagem de som, confiando no técnico inteiramente, e se tiver que mudar algo, na hora do show, entre uma música e outra ele o faz.
Para Jackson, a partir do momento em que se está trabalhando, você deixa a condição de ouvinte normal e passa a prestar atenção nas músicas. "É impossível você não ouvir um timbre de bateria ou de guitarra e não ficar pesquisando na sua cabeça como foi que o técnico fez aquilo e o que eu usaria se estivesse fazendo aquilo", complementa. Mas para usar algo novo, que ouviu fora, só se for para somar à linguagem que o artista está traduzindo ali no palco. 


  PA e Monitor

Tendo como mestre Mário Possolo, mais conhecido como Leco, o atual técnico de PA de Gil, a quem dedica grande parte do que aprendeu como técnico de monitor, João acha que é fundamental  a interação  do técnico de PA e monitor durante o show, sempre um ajudando o outro mesmo. "Quando o Leco tinha que chamar a atenção, ele chamava, quando tinha que elogiar, elogiava e foi com ele que eu aprendi tudo", complementa. Se existir um volume muito alto de palco, com certeza vai atrapalhar o PA, e se o mesmo estiver alto, voltando muito para o palco, vai atrapalhar o técnico de monitor. "É necessário até mesmo uma amizade, além do profissionalismo, e é este o tipo de relacionamento que eu tenho com o Leco", finaliza.
Segundo Cláudio, o trabalho dos técnicos de PA e monitor tem que ser muito afinado. "Pois se eu faço um som de monitor muito alto, eu vou estar prejudicando a captação do PA, ocasionando ruídos desnecessários, assim como, se ele tocar o PA muito alto, em algumas condições prejudica o meu monitor", explica. O ideal seria que fossem grandes amigos dentro e fora do trabalho.
Para Jackson, como a pressão sonora de hoje em dia, tanto do palco como do PA, está muito mais alta do que antigamente, é necessária uma interação entre os técnicos, em termos de trabalho, concepção de som e idéias. 



 

Sérgio Silva (roadie) e Jackson Marques, técnico de monitor do Djavan / foto: Arquivo pessoal Jackson Marques
  "É impossível você não ouvir um timbre de bateria ou de guitarra e não ficar pesquisando na sua cabeça como foi que o técnico fez aquilo e o que eu usaria se estivesse fazendo aquilo", Jackson
"Pois se eu faço um som de monitor muito alto eu vou estar prejudicando a captação do PA, ocasionando ruídos desnecessários, assim como, se ele tocar o PA muito alto, em algumas condições prejudica o meu monitor", Cláudio
"Se você está chegando em uma banda nova, o ideal é que antes dela chegar o seu equipamento já esteja alinhado, no ponto em que a partir dali sejam ajustados apenas detalhes", Jackson
 
 
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