Então, para quem leu no Lugar da Verdade mês passado, o "bug que não existia" infelizmente... existe. Mas está adormecido! Para os que estão chegando hoje, eu estava com mais problemas do que o Ary Quintela na instalação do meu Digital Performer 2.7 no Mac G4 dual 450 MHz. O sistema estava inoperante de tanto que travava. Dias depois de não saber mais o que fazer e com quem falar, fui visitar o site da Mark of the Unicorn (MOTU) e lá encontrei um upgrade para Digital Performer 2.72.
A descrição era a seguinte: "Nenhuma mudança. Apenas pequenos consertos." Fiz o download desse upgrade e de novas versões de todos os drivers da MOTU que o sistema usa (FreeMidi, MAS Driver etc.). Rodei a nova versão, sem habilitar os plugins (Waves e Auto-tune). Funcionou! Fantástico. Pequenos consertos? Então instalei os plugins e os problemas voltaram sutilmente. O suporte da Waves me garantiu que eu precisava alocar aproximadamente 30 mega a mais no Digital Performer para usar os plugins, o que resultaria em quase 60 mega. Já o suporte MOTU me garantiu que, se eu alocasse mais de 35 mega para tudo, eu teria problemas. Ótimo! Em quem acreditar?
Adoraria que as companhias se comunicassem mais. Principalmente, companhias que vivem de fazer produtos que funcionam exclusivamente com outros. O resultado é que, nem 35 mega e nem 60. Para fazer o sistema funcionar, tive que alocar 100 mega. Certo ou errado, foi a única solução. E o Digital Performer ainda dá erro na hora que eu fecho o programa. Novamente me comuniquei com a MOTU e eles perguntaram, de novo, se eu já havia tentado tirar os plugins. Desisto. Só volto a mexer no sistema quando terminar meu projeto. Bem, fora isso, o sistema é realmente incrível.
Estou usando uma mesa Panasonic DA-7. Apesar de todas suas maravilhas, faltam na sua automação duas coisas essenciais para mixar discos de hoje: Off Line Trim, que depois dos moviqmentos feitos em um determinado canal, podemos com a mix parada, somar ou subtrair volume deste canal; e Trim Fader Edit, que nos possibilita fazer o mesmo, somar ou subtrair volume aos movimentos já gravados em um canal.
Na verdade, a DA-7 oferece edição de fader em modo Relativo (Trim) mas quando fazemos o Punch Out da automação, o volume do canal não volta para onde estava gravado, e sim a soma ou subtração é levada até o fim da música. Nove entre dez vezes, contra nossa vontade. Muito bem. Levei este problema ao suporte da Panasonic, e tive as mais variadas sugestões, do tipo "não use Trim". Demais para mim! Então na NAMM fui à Panasonic tentar resolver o problema pessoalmente. Apesar de muito atencioso, o americano não sabia a solução e, surpreendentemente, o japonês que criou o software da mesa estava lá. Seria muito fácil se ele falasse ao menos inglês. Após algumas horas, consegui entender que ele não se lembrava mais como operar a mesa, pois já estava envolvido em projetos futuros e há algum tempo não tocava na DA-7.
Como não vi outra solução para as minhas mixagens, quebrei mais um paradigma e comecei a mixar dentro do computador, usando toda a automação do Digital Performer. E não tenho palavras. É incrível. A melhor automação que já usei. Você faz literalmente o que quiser. Edita Fader Levels em Relativo ou Absoluto e até tem uma simulação de Flying Faders, onde o fader só grava enquanto você está com o mouse em cima dele, voltando para posição original quando você desclica o mouse, tanto em Absoluto como em Relativo. Tudo que você vê pode ser automatizado, inclusive os parâmetros dos plugins MOTU. Tive que mudar meu método de trabalho, mas certamente valeu a pena.
Com isso, mais uma vez, aprendi uma velha lição: tudo é método. Não existe o certo ou o errado, e sim o que melhor se adapta a você. Então, nos tornamos escravos dos métodos que funcionam para a gente e nos esquecemos que a tecnologia pode gerar métodos novos, que então podem revolucionar nossa maneira de trabalhar, se nos permitirmos conhecer essas novas possibilidades. Mixagem Virtual chegou para ficar. Não é melhor ou pior, mas definitivamente deve ser experimentada.
Para esclarecer alguns termos usados acima: movimento Absoluto é aquele em que na automação o volume do fader corresponde exatamente a onde ele se encontra fisicamente. Movimento Relativo ou Trim é uma soma ou subtração que se pode fazer aos movimentos do fader já gravados em takes anteriores, sendo esses movimentos anteriores preservados, e sofrendo apenas como alteração uma soma ou subtração de valores.
NAMM significa National Association of Music Merchants, e é uma convenção de fabricantes de produtos de áudio e música, realizada todo ano na Califórnia. Flying Fader é um sistema de automação, criado pela Martin Audio na Califórnia e conhecido para quem usa mesas de mixagem de grande porte da marca Neve, no qual os faders de metal "sentem" quando tocamos neles e gravam os movimentos automaticamente. E, para finalizar, Ary Quintela não era aquele que escreveu um livro chamado "1000 Problemas para matemática do segundo grau"? Acho que era isso. Bem, esse sim tinha problemas!
Enrico De Paoli é engenheiro de áudio formado pela Grove School of Music e pelo Musicians Institute na Califórnia. Seus créditos incluem Djavan, Ray Charles entre outros. E-mail
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