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Revista Luz & Cena
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Aposta no Presente
Mosh Studios Abre Sala Digital Surround 5.1 Para Mixagem em DVD
André Luiz Mello
Publicado em 01/04/2001 - 00h00
André Luiz Mello
 (André Luiz Mello)
Disposto a continuar apostando na finalização do formato DVD, o Mosh Studios (SP) abriu no fim do ano passado o seu estúdio "D", direcionado para mixagens em DVD. O proprietário Oswaldo Malagutti prefere não revelar as cifras do investimento que resultou na aquisição de uma console Solid State Logic Axiom MT (216 canais, com processadores de dinâmica internos e total recall em todos os parâmetros), das workstations de áudio não linear Pro Tools Mix Plus e Fairlight Merlin 48 (a segunda entregue no mundo e que possui 296 Gibabytes de processamento), de monitores Genelec e de dois dos mais comentados processadores de efeitos baseados em hardware no momento: Lexicon 960L e TC Electronic System 6000.

O novo estúdio pode receber mídias nos formatos ADAT, TDIF-1, AES, PD, S-DIF2 e analógico. A técnica possui 40 m² e é complementada por uma sala de 8 m² (para pequenas gravações). Ambas foram desenhadas por Jeff Forbes, com projeto de engenharia eletrônica de Carlos Martins e execução de Yssao Yamazaki. É no "D" que foi mixado o primeiro DVD de Chitãozinho & Xororó ("30 Anos de Coragem"). O novo estúdio também mixou o próximo CD da cantora Zélia Duncan, bem como o de Ná Ozetti.
Fazem parte do complexo do Mosh Studios as salas A, B, C, D, Vip, Masterização e Autoração, esta última tema da reportagem de capa da M&T 103/ abril de 2000. Autoração é o processo de acabamento final do DVD no qual são reunidos áudio, vídeo, menus, legendas, design gráfico etc, dando, assim, uma estrutura lógica à nova mídia.
O DVD "Leonardo ao Vivo", lançado em dezembro de 1998, passou pelo Mosh e detém o feito de ter sido o primeiro a ser autorado no país. O show de Djavan também foi mixado e autorado no local. Enquanto fechávamos esta edição, recebemos a informação de que a cantora Cássia Eller também teria seu show (previsto para ser gravado em março no Teatro São Pedro) mixado e autorado no estúdio.

Inspirando-se nos Estúdios Internacionais

M&T: O que o levou a montar esta nova sala?
Oswaldo Malagutti: Em junho de 1998, o Carlão (Carlos de Andrade, proprietário da gravadora, estúdio e distribuidora de equipamento de áudio Visom Digital) me ligou. Ele tinha vendido um DVD Creator (sistema de autoração da Sonic Solutions, marca distribuída no Brasil pela Visom, que possibilita a convergência de áudio, vídeo e design gráfico para dentro do DVD) à Videolar. Só que na última hora a empresa desistiu da compra. Ele não podia cancelar essa venda e perguntou se eu estaria interessado no produto. E tinha que decidir isso rápido. Eu já interessado em mexer com o surround sound nesta época. E como o DVD dá essa possibilidade, ficou interessante. Montei a sala de DVD e acabamos fazendo algumas mixagens no estúdio VIP. Concluímos que era um pouco difícil mixar o 5.1 numa mesa Neve adaptada. Fizemos algumas modificações, mas continuava complicado. E não só isso: pela invasão de Pro Tools que houve de quatro anos para cá, eu senti que precisava fazer uma coisa bem diferente.

M&T: Como assim?
Oswaldo: Observando os grandes estúdios internacionais, percebi a necessidade de fazer algo de ponta para poder sair na frente. Então montei essa sala totalmente digital para mudar radicalmente a história, já que estava mexendo com DVD. A sala aceita praticamente todos os formatos digitais que existem no momento. A idéia é sempre transferir de qualquer formato que vier - analógico ou digital - para dentro do Merlin. E o excedente a gente passa para o Pro Tools. Se for o caso, podemos misturar também com uma máquina digital Otari DTR 900-II, de 32 canais com tape de 1", no caso de uma mixagem com 100 canais. Tudo isso aqui é gravado em 24 bits/ 48 kHz, nós não estamos ainda trabalhando com 96 kHz porque ainda vai demorar bastante tempo para virar o formato. Em três anos é possível que isso mude.

M&T: Poucos estúdios no Brasil podem investir tão alto quanto o Mosh.
Oswaldo: Como sou um apaixonado por essa história toda, eu não fiz muita conta para saber se este dinheiro voltaria ou não...

M&T: Aí é que está o detalhe mais inusitado: você fez um investimento deste tipo e sem precisar de retorno imediato.
Oswaldo: É lógico que eu vou querer o retorno, mas na verdade não estou pensando em quanto tempo vai voltar. Aliás, eu fiz essa conta mas ela não conseguiu me convencer de nada. O que valeu foi a minha vontade de fazer. 

Workstations
M&T: Fale sobre o primeiro trabalho realizado no estúdio "D".
Oswaldo: Nós levamos cinco meses para construir, e o primeiro trabalho foi o DVD do Chitãozinho & Xororó. Começamos o projeto no fim de novembro, continuamos em dezembro e janeiro e terminamos no começo de fevereiro a mixagem de áudio. Autoramos e hoje (dia 19 de fevereiro) estamos entregando o DLT pronto para a Universal mandar para a fábrica. Esse projeto foi complicado, porque todo show sempre tem problemas técnicos durante a gravação. A Universal nos enviou 70 tapes de 2", sendo que as melhores partes foram selecionadas de vários takes. O DVD é muito grande, acabou ficando com 2 horas e 25 minutos de programa. São 1 hora 30 minutos de show corrido, mais bônus, entrevistas...

 
Oswaldo Malagutti: sem pressa de recuperar o investimento

M&T: E a workstation Fairlight Merlin?
Oswaldo: A base do estúdio está com Merlin e Pro Tools, totalizando 72 canais digitais que saem para a SSL. O material principal fica dentro do Merlin (em 48 canais) e o Pro Tools (em 24 canais) trabalha como um auxiliar do Merlin. O Merlin é uma workstation muito poderosa que toca os 48 canais de uma vez sem haver problema de falta de DSP e de HD.
Um estúdio no Canadá recebeu o primeiro para teste e nós recebemos o segundo no mundo. A Fairlight é uma empresa pioneira em digital audio, são 25 anos. Eles tiveram uma fase muito boa no começo dos anos 80 com o teclado CMX. O Merlin é filho do MFX-3 Plus, um equipamento usado para pós-produção de áudio e vídeo. A workstation tem ferramentas básicas de edição como cute, paste, delete e transfere alguns arquivos, então na verdade ela não é feita para edições. Essa é a razão pela qual também temos um Pro Tools sincronizado com o Merlin, para fazermos algumas edições mais finas.

M&T: Então em qual função o Merlin seria melhor?
Oswaldo: Em carregar arquivos muito grandes de áudio. Por exemplo: dentro desta workstation nós temos um HD interno de 72 giga e vários HDs de 36 giga em gavetas. Com 36 giga dá para gravar 80 minutos em 48 canais (24 bits/ 48 kHz). Então você não precisa ficar limitado a ficar trocando HD e cabo. Ele também faz backup em background. O backup do Pro Tools por enquanto está sendo feito em CD. 

"Vamos Voltar ao Tempo em que se Gravava em Dois Canais"

M&T: E sobre a SSL Axiom MT?
Oswaldo: Nesse nível de console digital eu tinha umas quatro escolhas. Mas acabei escolhendo a SSL porque ela é uma mesa digital com controles semelhantes aos analógicos, não te deixa preso ao computador ou atrás de mouse. Qualquer pessoa pode mixar nela. Claro que tem que haver alguém da casa para poder dar alguns comandos principais. Esse modelo possui 96 faders e aceita até 216 inputs com automação e total recall em tudo, desde a chave de roteamento até o fader, o que possibilitou, no caso do Chitãozinho & Xororó, fazermos cinco mixagens da mesma música, coisa que seria quase que impossível numa outra console.

M&T: Quais monitores você escolheu?
Oswaldo: De novo eu acabei escolhendo a Genelec porque há cinco anos ela dá certo no Mosh. E eu não quis arriscar. As caixas frontais (L/R) são 1038 e a central é a 1038-AC. As traseiras são as 1037 e o subwoofer é da B&W, porque nós tínhamos um subwoofer deste sobrando. Todas são self-powered.

M&T: Qual a sua opinião sobre as possibilidades de se "consertar" gravações ao vivo por meio de workstations digitais de áudio?
Oswaldo: Às vezes isso acontece, o microfone falha. E não é para encobrir um defeito ou alguma coisa que o artista não consiga fazer ao vivo. Pode ser um problema técnico. Andaram chamando isso de enganação. A própria gravação que é feita em multicanais em estúdio é cheia de emendas. Ninguém canta e toca de uma vez. Se o camarada quer uma coisa perfeita, vamos voltar ao tempo em que se gravava em dois canais de uma vez só. 

Pensamento Digital
M&T: O que você vislumbra para o futuro do DVD? Como está o mercado para os estúdios brasileiros?
Oswaldo: Há dois anos, quando eu conversava com a maioria dos artistas, poucos sabiam do DVD. Hoje é o contrário. O DVD não vai substituir o CD. O 5.1 tem vários modos de trabalho: tem pessoas que querem respeitar a imagem do vídeo e se o artista está do lado direito ele quer que o som fique neste lado, mas outros colocam a mixagem do 5.1 completamente fora de onde você está vendo. Ainda não há um padrão definido de mixagem em 5.1.

M&T: O estúdio pretende atrair clientes internacionais com este investimento?
Oswaldo: A gente até está tentando. Só vejo possibilidade de projetos internacionais se nós dermos uma condição financeira boa para os clientes. Estamos tentando isso na parte de autoração, que no Brasil é muito barata. Até oito meses atrás o nosso departamento de DVD era deficitário, ou seja, tinha que pegar dinheiro do Mosh para pagar as contas. E agora ele já está dando um lucro. Mas se essa sala nova não der retorno, a gente não estará com a corda no pescoço de precisar gravar e fazer qualquer tipo de negócio.

M&T: Como você interage dentro deste ambiente digital?
Oswaldo: É uma linguagem completamente diferente, você não pode pensar igual ao analógico. No analógico, se você tiver um bom patch e um cara esperto no estúdio, consegue sair sempre fora do problema. No digital não tem conversa. Tem o software e páginas escondidas dentro de páginas. Eu, que comecei gravando em quatro canais, tenho 53 anos, acho muito legal poder entender tanto de uma Neve ou de um Pultec valvulados quanto de uma workstation.


Sala Digital Surround Sound 5.1 - Estúdio D (Mosh Studios)
Técnica: 40 m²
Sala de gravação: 8 m²
Sala de máquinas: 10 m²
Console
Solid State Logic Axiom MT total recall (96 canais de retorno de linha e 24 digital I/O no módulo central)
Workstations
Fairlight Merlin 48 com 48 canais e edição de áudio, com 296 Gb
Pro Tools Mix Plus com 24 canais de I/O e USD
Gravadores
Conexão analógica com o estúdio A, para 48 canais em 2" (Studer A-827)
Conexão com gravador digital Otari DTR 900II Pro Digi Format, de 32 canais
Studer A-820 para mixagem estéreo
Tascam DA-98 para master em 5.1
Tascam DAT DA-45 (24 bits)
Panasonic DAT 3800 (16 bits)
Tascam K-7 302 double deck
Tascam CD-RW2000
Monitores
Genelec 1038 - L/R
Genelec 1038AC - central
Genelec 1037A - surround L/R
B&W ASW 3000 - subwoofer
Yamaha NS10M - near field
Amplificador de referência
Hafler Pro-5000 (p/ Yamaha NS10M e headphones)
Processadores de efeito
Lexicon 960L
TC Electronic System 6000
Conversores
2 Otari UFC-24/24 Universal Format Converter
2 Otari FS-96 Universal Format Converter
3 Conversores Apogee AD-8000 AD/DA com placas opcionais TDIF e AES
Outros
Interface TDIF/AES Tascam IF-AE8
Gerador de black burst Horita BSG-50
Distribuidor de sinal de vídeo Horita VDA-50
Aardvark Time Sync II
Aardvark Sync Distribution Amplifier
Processador Allen & Heath D128 (p/ bass management)
Máquina de vídeo Sony Beta SP UVW-1600
DVD player Sony
Projetor Sony
Telão Da-Lite


Tags: estúdio
 
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