Participação em mais de 400 álbuns, reconhecimento internacional e uma técnica invejável fizeram de Nico Assumpção um dos maiores contrabaixistas brasileiros nos últimos 20 anos. Infelizmente um câncer generalizado, gerado a partir de complicações hepáticas, silenciou o contrabaixo do mestre que faleceu aos 46 anos no dia 20 de janeiro. Fica para a posteridade uma herança de grandes discos gravados, um livro com técnicas de improvisação lançado recentemente e vários outros projetos em fase de finalização que imortalizam a obra deste gênio das quatro, cinco e seis cordas.
A Carreira
Nascido em São Paulo no ano de 1954, Nico começou a tocar baixo com 16 anos. Foi aluno de feras do instrumento como Amilton Godoy e Luís Chaves, ambos do Zimbo Trio, no CLAM, escola onde acabou se tornando professor por dois anos. Aos 22 anos resolveu se mudar para os Estados Unidos, mais precisamente Nova York, com o objetivo de aprofundar seus estudos e ampliar seus conhecimentos musicais. Lá acabou ingressando no grupo do pianista Don Salvador e do saxofonista Charlie Rouse, o que lhe deu a oportunidade de conhecer e tocar com grandes nomes do Jazz americano, tais como Fred Hersh, Larry Willis, John Hicks e vários outros.
Em 1981, retornou ao Brasil lançando um projeto ousado para o mercado fonográfico brasileiro da época, o primeiro disco de contrabaixo solo do país. Este álbum, totalmente independente, saiu apenas com o nome de "Nico Assumpção" e ainda não está disponível em CD. Com tudo isto, ele se transformou em um dos músicos mais requisitados por artistas brasileiros, tais como Milton Nascimento e João Bosco, tanto para gravações em estúdio quanto para apresentações ao vivo. Atingiu o incrível número de mais de 400 discos e uma quantidade incalculável de apresentações. Além da obra musical, o músico foi um dos responsáveis pela introdução no país dos contrabaixos de cinco e seis cordas, além do baixo fretless, isto é, sem trastes. Executava todos com igual desenvoltura e virtuosismo, incluindo os contrabaixos acústicos.
É um momento de perda, mas não podemos esquecer da alegria que Nico nos proporcionou durante estas duas décadas de carreira. Temos que agradecer por termos tido um músico deste porte nascido no Brasil e trabalhando no Brasil. Quem o conheceu afirma que ele sempre estava disposto a ajudar e a ensinar quem quer que seja, desde que a pessoa realmente quisesse aprender. Ficou de herança o seu amor pela música, por seu instrumento, seus discos, um livro e alguns projetos em fase de finalização.
O Futuro
Quem pensa que a obra do compositor está encerrada está muito enganado, ainda há muito material a ser lançado e alguns lançamentos bem recentes, dentre eles está o livro "Bass Solo". Nele, Nico demonstra que o contrabaixo não precisa ser apenas um instrumento de acompanhamento, mas também pode ser um instrumento de frente. Todos os exercícios vêm com inúmeros exemplos, todos com suas devidas digitações e ainda acompanha um CD aonde os mesmos exemplos descritos no livro são demonstrados na prática em diferentes andamentos e ritmos.
Já foi lançado o CD "Tocando Victor Assis Brasil" onde Nico se juntou a Luizinho Avelar e Kiko Freitas para gravar. Outro álbum lançado foi o disco "Três", nele o baixista toca com Lincoln Cheib e Nelson Faria. O público ainda pode aguardar pelo último disco de sua carreira que deve sair no fim deste ano ou no início de 2002.
O projeto mais aguardado é a caixa intitulada "Trilogia". Ela vai conter três CDs, o primeiro álbum de Nico Assumpção de 1981 e outros dois discos que reúnem uma pequena parcela de sua carreira, além de takes inéditos e canções ao vivo. Esta caixa está prevista para ser lançada este ano. Ainda há outro álbum de carreira que deve ser reunido com outros dois CDs e será lançado como "Trilogia Vol. 2". É possível que muitas outras caixas, no estilo "Trilogia", sejam feitas, pois o material deixado por Nico é enorme e tem muita coisa inédita como sobras de estúdio, duos, gravações ao vivo, entre outros. É ótimo saber que este gênio do contrabaixo ainda nos reserva várias surpresas.

Patrick Laplan, baixista do Biquíni Cavadão e ex-aluno de Nico Assumpção, homenageia o músico no Rock in Rio, um dia após o seu falecimento: "Mestre, descanse em paz"
Curiosidade
Além de um exímio baixista, Nico Assumpção era um grande conhecedor e apaixonado pelos computadores MacIntosh. Segundo o músico, produtor e técnico de som Daniel Cheese, a relação de Nico com estas máquinas era algo de caráter filosófico, ele fazia por prazer. Ajudava outros usuários com problemas, reconfigurava máquinas de amigos de graça, apenas com o propósito de manter uma cultura MacIntosh no Rio de Janeiro e no Brasil.
Vários trabalhos do baixista foram mixados no MacIntosh. "Ele pesquisava muito e sempre tinha a primeira história, chegava o primeiro upgrade, ele sempre tinha e passava para as pessoas, ele testava os Betas e dizia se iam ou não dar certo", afirmou Daniel. Ele conseguia trabalhar com quase todos os estúdios do Rio de Janeiro desde que trabalhassem com Macs, era um verdadeiro defensor destes computadores. Muita gente começou a utilizar estas máquinas graças a ele e todos se dizem muito satisfeitos, ao contrário de muitos usuários do sistema operacional Windows, o qual Nico detestava.
O Site
A página do saudoso baixista, obviamente desenvolvida em sistema Mac, é muito bem feita e é visita obrigatória para quem se interessa pela carreira deste mestre da música ou por quem está se iniciando no mundo musical. Lá o visitante vai encontrar a biografia do compositor, fotos, várias músicas e solos de baixo em formato MP3 disponíveis para download, discografia comentada pelo próprio Nico, comentários de grandes nomes da música mundial, além da relação de equipamento que o baixista utilizava. Na seção de links o usuário vai encontrar uma vasta relação de páginas de músicos, empresas de instrumentos e equipamentos musicais, entre outros sites selecionados pelo próprio Nico Assumpção. O endereço do site é
www.nicoassumpcao.com.br
Depoimentos
"Ele está entre os meus músicos favoritos no Brasil" Branford Marsalis - saxofonista
"Se eu tocasse baixo, queria ser o Nico Assumpção" Don Grusin - Tecladista, após a apresentação de Nico no Free Jazz de 1987
"Nico é o mais impressionante virtuose que já ouvi" Michael Bourne, editor da revista Down Beat
"Era muito mais um amigo do que um professor. As aulas que eram de uma hora duravam quatro, cinco horas. Ele tinha muita informação para passar" Patrick Laplan, baixista do grupo Biquíni Cavadão e ex-aluno de Nico Assumpção
"Se os Estados Unidos têm John Patitucci, nós temos o Nico Assumpção com muito orgulho" Jorge Pescara - baixista