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Revista Luz & Cena
Editorial
Intuição, Cálculo ou o Quê?
Sólon do Valle
Publicado em 01/03/2001 - 00h00
 Poucos artistas atingiram, até hoje, a marca das dezenas de milhões de discos vendidos. Recentemente, uma banda atingiu a fantástica venda de 20 milhões de CDs. Trata-se, é claro, de uma banda de garotos bonitos, fazendo boa música e tomando de assalto o coração das meninas? De uma banda pesada que representa o estado de espírito dos meninos do século 21? De um som novo que não se encaixa nos padrões habituais?
 Nada disso. O CD em questão - "One" - é uma coletânea de singles de uma banda cujos integrantes ainda vivos beiram os 60 anos de idade e que - incrível - foi desfeita há mais de 30 anos. Sim, talvez você já tenha ouvido falar de uma banda chamada The Beatles...
 Para completar, os cinemas do mundo todo estão exibindo o filme A Hard Day's Night ("Os Reis do Iê-Iê-Iê"), devidamente remasterizado, reprocessado e renascido das velhas fitas originais. Encabeçando o elenco e comandando a ação... The Beatles!
 The Beatles? Uma obscura banda de rock, vinda do interior da Inglaterra, após ser recusada por todas as gravadoras imagináveis, foi lançada por um produtor igualmente insignificante no cenário musical da época, George Martin, através de um selo quase fracassado. O resto é história. Por tensões internas, a banda se desfez em 1970, só voltando a se reunir em 1997, em uma gravação que ignorou até mesmo a morte prematura de um dos integrantes do grupo.
 Ninguém duvida da competência dos quatro rapazes de Liverpool, mas bater todos os recordes de vendagem 30 anos depois é demais! Fala-se até mesmo em ressurgimento da Beatlemania - palavra de significado óbvio e abrangente que apareceu nos idos de 1963.
 Porque George Martin apostou naquele grupo que todos os outros diretores recusaram? Talvez porque nada tivesse a perder? Ou porque teve uma "luz" de que aquilo era o que o mundo esperava? Convenhamos, para 1962 aquele som era inovador. Pesado, tocado com uma energia que então não se usava, com letras diretas cantadas de forma linear, sem os floreios bregas do rock-balada da época.
 Porque agora a gravadora apostou na Neobeatlemania? Será que o fenômeno que reformulou o mundo artístico nos 60's não teve um equivalente nas décadas seguintes?
 O fato é que funcionou. Desfalcados, quase idosos, separados há décadas, os Beatles venceram a aposta. Simpatizantes ou não da indústria fonográfica, temos que reconhecer que, das duas uma: ou os caras das gravadoras têm uma intuição e uma sorte incríveis, ou eles sabem fazer os cálculos de tempo, espaço e grana muito bem.


 
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