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Especial Teatros: Teatros de Belém - PA
por Tatiana Queiroz
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14/06/2007
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Theatro da Paz: o preferido dos profissionais de Belém |
Depois de passar por Manaus, em novembro de 2006 (edição 88), a série Especial Teatros de L&C volta ao Norte do país para saber como andam os teatros de Belém na visão de iluminadores e cenógrafos atuantes na capital do Pará.
Em Belém, assim como na capital do Amazonas, a maioria dos teatros é administrada pelo governo do Estado. Não há nenhum teatro municipal e são poucos os vinculados à iniciativa privada. Com a escassez de locais onde espetáculos experimentais possam se apresentar por uma longa temporada, algumas companhias teatrais da região arregaçaram as mangas e criaram os seus próprios espaços.
Outro ponto em comum com Manaus, é o fato de o teatro apontado como o melhor de Belém, por grande parte dos profissionais entrevistados, ser o maior e o mais clássico de todos: o Theatro da Paz.
O MAIS BELO E BEM EQUIPADO DE BELÉM
Inspirado no Scalla de Milão, o Theatro da Paz foi erguido no período áureo da exploração da borracha na Amazônia, sendo inaugurado em 1878. Em 2000, sofreu sua mais recente reforma, que durou dois anos, e foi reaberto ao público totalmente restaurado e modernizado. Recebeu novas redes elétrica e hidráulica e um novo sistema de ar-condicionado. Os camarins foram duplicados e o piso do palco italiano, que era fixo, passou a ser em quarteladas. O fosso da orquestra ganhou novo tratamento acústico e mais espaço com a eliminação dos pilares que sustentavam o antigo piso. As 20 varas de cenário contrapesadas foram trocadas e as seis de luz passaram de manuais a mecânicas. O controle do sistema de iluminação cênica agora é computadorizado.
"É o melhor teatro em termos técnicos e é o mais equipado. As varas eletrônicas permitem montar com facilidade as luzes", afirma o ator e iluminador Milton Aires.
Com aproximadamente 900 lugares, o tradicional teatro é conhecido por abrigar o Festival Internacional de Ópera da Amazônia, novo nome do Festival de Ópera do Theatro da Paz, que atrai centenas de turistas a Belém. Sua estrutura se equipara a dos Theatros Municipais do Rio de Janeiro e de São Paulo e ao Theatro São Pedro, em Porto Alegre. O palco tem 12,5m de profundidade e 16,7m de largura. A boca de cena, 10,1m de altura e 10,8m de largura. O proscênio, 3m de profundidade e 11,5m de largura.
"Tem um urdimento maravilhoso, que possibilita esconder qualquer coisa. As varas de luz são mecanizadas e estão bem distribuídas, inclusive nas laterais. Depois da reforma, ganhou um circuito de TV que fica na coxia, de onde dá para assistir o que acontece no palco. Tem também um elevador de carga e é o único teatro equipado com fresnel 2000", elogia Iara Souza, iluminadora e coordenadora do Curso Técnico de Cenografia da Escola de Teatro da Universidade Federal do Pará.
Para o cenotécnico José Ribamar Monteiro, há 31 anos no Theatro da Paz, o espaço "possui todas as vestimentas que uma caixa cênica precisa". Tem bandô, bambolinas, rotundas, pernas e cortina de boca elétrica, além de ciclorama e tela de projeção. Ele e outros profissionais também avaliam a acústica do local como excelente.
Outro fator que fez o Theatro da Paz ser eleito o melhor de Belém é a sua experiente equipe técnica, formada por Ribamar e mais dois técnicos de palco, dois iluminadores e dois técnicos de som. "Eles são qualificados e gentis", atesta a iluminadora Sônia Lopes.
Todos concordam que o Theatro da Paz é o mais bem equipado de Belém, mas o iluminador do Teatro do Gasômetro, Nelson Dantas Figueiredo, considera alguns refletores defasados. "Ainda precisa de equipamentos mais modernos. Acho o sistema de ar-condicionado um pouco deficiente também.", diz.
Para Ribamar, a deficiência do teatro está nas coxias. "São muito pequenas", reclama. Uma delas tem cerca de 3m de largura. A outra não chega a 2m. Já Iara e Milton apontam um problema comum aos teatros clássicos. "Como é um palco italiano, no formato de ferradura, com quatro níveis de platéia, não existe vara de luz frontal. As varas só vão até a boca de cena", conta a iluminadora. "Tem que se criar varas, que são postas nas laterais, próximo aos camarotes. Ao meu ver, fica algo muito feio diante da beleza do teatro.", acrescenta Milton.
ARQUITETURA BOA, MAS FALTAM NOVOS EQUIPAMENTOS
O teatro Margarida Schivasappa também foi bastante enaltecido pela classe. Com 20 anos e capacidade para 544 espectadores, ele faz parte do Centro Cultural e Turístico (Centur), um complexo administrado pela Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves, que além do Margarida, inclui o teatro Waldemar Henrique.
"Ele possui uma disponibilidade de angulação de luz total e uma equipe técnica com muitos anos de trabalho", diz o iluminador David Matos.
O engenheiro eletrônico e iluminador, Luiz Dejard, vai além nos elogios. "Ele tem uma excelente acústica, a caixa cênica é do tipo italiana e a arquitetura interna foi muito bem trabalhada. Tem uma boa administração e profissionais dedicados e competentes", enumera. Dejard foi consultor técnico das pequenas reformas feitas no teatro em 2006, entre elas, adaptações para deficientes físicos e mudança do revestimento interno das paredes.
Embora seja considerado um dos melhores, ele revela os pontos fracos do teatro. "O sistema de PA antigo; mesa de luz analógica e falta de equipamentos de luz com tecnologia atual". Para tentar suprir algumas dessas deficiências, o engenheiro projetou para o teatro um sistema de line array e indicou uma nova mesa de luz digital, que, segundo ele, estão dependendo da liberação de verba para serem comprados.
A mesa de luz Ditel de 48 canais e os refletores do teatro são alvo de reclamações por grande parte dos que colocaram o Margarida no rol dos melhores de Belém, como os iluminadores Sônia Lopes, Patrícia Gondim, Iara Souza e Nelson Dantas e os cenógrafos Guilherme Repilla e Aníbal Pacha. Eles reclamam que a mesa é antiga e está em péssimo estado de conservação e que os refletores são poucos para o tamanho do espaço e estão sucatados.
"Ele sempre teve grandes problemas com equipamentos de iluminação. A parte elétrica deixa a desejar, às vezes você dá BO na mesa e alguns refletores ainda ficam acesos", conta Iara. Ribamar ainda lembra que o teatro é deficiente no quesito vestimenta.
Apesar dos problemas, a estrutura do teatro agrada a todos. "Considero ele o segundo melhor porque tem uma boa acústica, o que é fundamental para um teatro", diz Nelson.
AMOR E DESCASO PELO WALDEMAR HENRIQUE
O teatro Waldemar Henrique divide opiniões. É considerado um dos melhores por alguns e um dos mais deficientes por outros. Mas todos lastimam o descaso com que o governo do Estado o trata.
Para Iara, se o teatro não estivesse em uma situação de "total abandono, deveria encabeçar a lista dos melhores de Belém". Já Sônia diz que "se fosse falar pelo coração, este seria o melhor teatro". O cenógrafo, figurinista e bonequeiro do grupo In Bust, engrossa o coro: "O Waldemar Henrique é o teatro do meu coração".
Criado oficialmente em 1979, o teatro foi projetado pelo arquiteto e cenógrafo Luiz Carlos Ripper, que teve a missão de restaurar e transformar o antigo prédio da Associação Comercial do Pará em um espaço polivalente.
O principal aspecto que o leva a ter uma avaliação positiva é o seu caráter experimental e maleável. Sua capacidade máxima é de 220 pessoas, distribuídas em 60 poltronas e 8 arquibancadas, que podem ser dispostas de acordo com o tipo de espetáculo.
"As possibilidades nele são quase infinitas. É um grande salão, rodeado por um mezanino, onde torres de manobras podem ser deslocadas de uma ponta a outra da sala de espetáculo, podendo montar qualquer tipo de palco", explica Iara.
"Tem um sistema de cordas e roldanas que fazem descer e subir varas de luz e cenário, que mesmo aparentemente obsoleto, proporciona milhões de possibilidades criativas e uma grande variedade de ângulos para a colocação dos refletores", acrescenta Patrícia.
Apesar de ter passado por uma reforma recentemente, os problemas, persistem. "O teatro precisa de uma melhora muito grande em termos de funcionários e equipamentos de som e luz, além de uma reforma melhor porque a que fizeram foi uma maquiagem. As tábuas do piso já estão soltando", alerta o cenotécnico José Nonato, que trabalhou por 16 anos no Waldemar Henrique e há 17 está no Margarida Schivasappa.
Outro problema oriundo de reformas e reparos mal feitos está, de acordo com Lauro, nos plugs. "Colocaram um tipo de tomada que a gente faz a conexão e desconecta. Às vezes, o refletor falha e a gente tem que apertar a tomada de novo. Assim não dá para programar uma luz em uma hora. É difícil porque as réguas com as tomadas ficam numa estrutura de trilho e você tem que pegar o número da vara. Se tivesse um circuito que permitisse puxar direto para o PBX, seria bem mais rápido".
O ar-condicionado do teatro faz tanto barulho, que segundo Milton, não tem como deixá-lo ligado durante os espetáculos. Além do ruído, o aparelho pinga água na platéia e no palco. E a água não vem só do sistema de refrigeração. Quando chove, há risco de goteiras.
Os profissionais também reclamam que o sistema elétrico e os equipamentos de luz recebem pouca manutenção. Os refletores estão defasados e não há material para reposição, como lâmpadas. "As manobras descarrilaram e, até o fim do ano passado, quando trabalhei nele, estava impossível fazer qualquer movimento", revela Iara.
Já Patrícia lembra que a antiga mesa de 24 canais foi trocada por uma de 48, mas os iluminadores continuam tendo que trabalhar somente com 24 canais, pois o controle de rack não foi trocado. "Essa mesa já chegou ao teatro com os potenciômetros enferrujados, pois na nossa região a umidade do ar é alarmante".
TEATROS COM JEITO DE AUDITÓRIO
Os teatros Estação Gasômetro e o Maria Sylvia Nunes não estão entre os preferidos da maioria dos entrevistados por conta de sua arquitetura. Mas, por outro lado, são considerados uns dos mais bem equipados, com mesas digitais, razoável quantidade de refletores e manutenção periódica.
Ambos os teatros têm palco italiano e foram projetados em cima de uma construção já existente. O teatro Gasômetro está abrigado na antiga estrutura de ferro inglesa, que pertenceu à Companhia de Gás do Pará.
O teatro Maria Sylvia Nunes fica em um dos galpões da Estação das Docas, antigo porto da capital. É um dos teatros mais novos de Belém, com sete anos apenas. Além de teatro, funciona como cinema e auditório.
Devido à sua estrutura de ferro e vidro, o teatro do Gasômetro tem sérios problemas de acústica e de interferências do ambiente exterior. Além disso, tem uma caixa cênica fora dos padrões de um teatro.
"Não parece ser um palco pensado, pois todo material em sua volta é reflexivo, ferros e vidros, fazendo com que a luz que é jogada no palco seja refletida para todos os lados. O palco não possui urdimento, coxia e profundidade, ou seja: é um auditório chamado de teatro", resume Patrícia. Por conta dos vidros, Milton ressalta que "é impossível fazer um blackout dentro do teatro".
Nelson, que é iluminador do Gasômetro, concorda com os colegas. "É um teatro pouco funcional e tem uma acústica péssima. O palco é afunilado. Na boca de cena, a largura é de 13m, no fundo, são 11m, e a profundidade é de 6,5m. O pé-direito mede 5m, que é a distância do piso até a vara de luz, para cima já é a estrutura de ferro. Não tem cortina e vara de manobra. Só as varas de luz é que são contrapesadas. As coxias são bem pequenas. Ele está mais para auditório, com arquibancadas e cadeiras. Mas gosto dele, é um espaço muito bonito". Ele revela que o novo governo tem um projeto de reforma do Gasômetro para resolver a questão da acústica, colocar cortina entre outras melhorias.
O Maria Sylvia Nunes também é visto pelos profissionais como um teatro com cara de auditório. Isso porque, tal qual o Gasômetro, não tem urdimento, as coxias são pequenas, e o palco tem pouca profundidade, 6m da boca de cena ao ciclorama, e uma largura que vai de 9,7m a 13,48m. A altura da boca de cena varia de 5m a 5,5m.
Guilherme destaca os "equipamentos, as vestimentas e os corredores largos e poltronas confortáveis da platéia", mas acha que o "espaço não dá muita opção para a técnica e é muito desconfortável para os artistas". Como exemplo, ele cita as varas, que são fixas, a caixa cênica, que não tem altura para subida de cenário, e os camarins, que são pequenos. Em contrapartida, Patrícia ressalta que as varas de luz são elétricas, mas ela acha que "os vidros espalhados pelo teto e o material de alto brilho em seu redor" atrapalham.
A acústica também não é o forte do teatro. "O som às vezes bate na parede e volta, ecoando dentro do espaço. Mas é uma opção, por ser dentro de um complexo como a Estação das Docas", diz Milton. O teatro não oferece equipamento de som.
O terceiro teatro mais citado como tecnicamente deficiente é um espaço privado: o Gabriel Hermes, do Sesi. O palco é italiano e mede 180m. A platéia, com 428 lugares, é muita alta em relação ao palco, segundo a avaliação de Iara.
"Não tem maquinaria e as varas de luz são fixas. Tem que usar um andaime pra afinar. Fiz poucas coisas lá porque o teatro não oferece condições para um trabalho descente de iluminação. Teria que ser tudo alugado e montado na hora" diz a iluminadora.
Ribamar foi um dos poucos que defendeu as qualidades do Gabriel Hermes, elegendo-o como um dos melhores de Belém. "Ele tem uma boa visibilidade da platéia para
o palco, caixa cênica completa, com urdimento em ferro, palco em quartelada móvel e sem inclinação e boca de cena com 12m x 17m", enumera. Mas ele concorda que os equipamentos são antigos, as coxias são ruins e que o teatro precisa de reformas.
Luiz Dejard acha que se a reforma já prevista for feita, "tem tudo para ser um dos três melhores".
O teatro do CCBEU (Centro Cultural Brasil Estados Unidos) também recebeu críticas. "É pequeno, falta equipamento e os que têm são ultrapassados", diz José Igreja, iluminador há 20 anos do teatro Margarida Schivasappa, com passagens pelos Theatro da Paz e Waldemar Henrique.
CIRCUITO ALTERNATIVO PERMITE NOVAS EXPERIÊNCIAS
Por conta dos problemas apontados acima, somados às dificuldades que as produções locais têm de se apresentarem com freqüência em teatros como o da Paz, seja pelo tamanho, pela falta de incentivo cultural ou pelo alto aluguel, foram criados espaços alternativos, que não dependem do Estado.
O destaque é para o chamado circuito Tá na zona. Estabelecido na antiga zona de meretrício de Belém, ele engloba alguns espaços criados por companhias teatrais ou por profissionais das artes cênicas que transformam os porões de suas casas ou galpões em palco para apresentações.
O grupo Usina Contemporânea de Teatro tem o U. Porão. Vizinho a ele, a atriz Wlad Lima criou o Teatro Puta Merda. O grupo Cuíra recentemente montou o seu espaço. "Eles não oferecem tecnologia, mas são bons espaços para trabalhar espetáculos pequenos", comenta Mauricio Franco, figurinista e cenógrafo, integrante da Desabusados Companhia.
A falta de equipamentos é driblada com criatividade e novas propostas, como a de Patrícia, iluminadora do grupo Cuíra. "Não temos o requinte de varas elétricas, mas venho desenvolvendo uma pesquisa em iluminação alternativa, com o título de Objetos luminosos comunicativos, para suprir a carência de grandes equipamentos, pois, no Espaço Cuíra, temos apenas oito refletores PAR 64, um rack e uma mesinha de seis canais emprestados pela Maraluz, empresa de luz parceira dos nossos projetos".
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