especial profissões: Profissionais da imagem
Quem são e o que fazem os artistas que estão por trás das câmeras de TV
por Isabela Arêde e Rodrigo Sabati
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16/04/2008
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No conforto do lar, de pés pro alto e com o controle-remoto na mão, dificilmente alguém pára pra pensar em quantas pessoas estiveram ou estão envolvidas na produção da atração exibida naquele momento. E antes que se faça tal pergunta, lá vai a resposta: são muitas.
Em geral, uma produção esmerada de TV conta com pelo menos uma dúzia de grandes profissionais. Na dramaturgia, por exemplo, estão envolvidos produtores, roteiristas, cenógrafos, diretores, diretores de fotografia, de arte, figurinistas e editores, além de contra-regras, cenotécnicos, continuistas e maquiadores, além, claro, dos atores, entre outros. Em transmissões ao vivo, no entanto, esse número pode facilmente triplicar.
Nesse artigo, Luz & Cena conta um pouco sobre como é a vida de quem está por trás da imagem, propriamente dita. Diretores, diretores de fotografia e de imagem e editores relatam suas experiências, revelam como é o dia-a-dia de trabalho e dão dicas para quem deseja ingressar na carreira.
DIRETOR
O diretor está para um programa, sem exagero algum, como um rei está para sua corte. É ele quem conceitua, coordena e realiza, do ponto de vista mais alto, tudo o que diz respeito a uma produção. É dele a responsabilidade de dar uma cara a determinado programa ou quadro.
Profissional de extensa bagagem, com passagens pela Globo, Directv e Multishow, entre outras emissoras, o mineiro Jodele Larcher conta que o papel do diretor vem se modificando ao longo dos anos. "Inicialmente, era um, agora é outro. Hoje, tem de ser, acima de tudo, um criador, um criativo", diz ele, que começou a carreira como operador de TV na Rede Globo.
Jodele afirma que alguns dos maiores diretores atuantes na emissora começaram a trabalhar na casa como officeboys, e que outros chegaram lá como operadores de câmera, de VT e editores. De acordo com o diretor, essa conquista é fruto da vivência diária, que, geralmente, oferece muito mais a um aspirante do que uma universidade ou um curso livre. "Não há nada mais valioso do que botar a mão na massa", garante.
As oficinas técnicas internas também são, segundo ele, grandes escolas de formação, principalmente as da Globo, que despejam centenas de grandes nomes no mercado de radialismo, e as da TV Cultura, de São Paulo. "É impossível negar sua importância. De lá, muita gente é aproveitada. Se o cara mostrar que é bom, ele já fica direto na empresa. Se não mostrar serviço, pode tentar a oportunidade em outras companhias. A faculdade te oferece conhecimento, mas a sustentação vem do dia-a-dia", explica.
Companheiro de Jodele em diversas empreitadas globais, Paulo Trevisan também trabalhou por anos na emissora até se tornar diretor. De datilógrafo do Departamento de Gerência de Materiais, o Gemat, para onde entrou em 1975, até a direção da novela Bebê a bordo, de 1988, muita coisa aconteceu. E antes de estampar os jornais do país por conta do sucesso da atração, ele exerceu outros cargos técnicos, como os de operador de VT e editor de imagens.
"Comecei a operar o AVR1, um equipamento de duas polegadas complicadíssimo de se mexer, com a ajuda de profissionais que trabalhavam nele. Em um ano, eu já era um dos operadores mais rápidos da rede, e, naquela época, o que contava era isso, a velocidade", lembra.
Da operação para a edição foi um pulo. Em pouquíssimo tempo, lá estava ele editando programas como o Plantão de Polícia e a novela Sétimo Sentido. Até que conheceu alguns dos mais importantes diretores da emissora, como Paulo Afonso Grisoli, Alexandre Avancini e Roberto Talma, e, por conta disso, editou as novelas Casarão e Estúpido Cupido, entre outras, para, em dois anos, começar a dirigir.
À frente da direção dos clipes do Fantástico, convidado por Itamar de Freitas, diretor do programa, Trevisan ditou tendência. "Posso dizer, sem modéstia alguma, que fiz parte da geração de diretores de clipes da época que inovou e criou os maiores conceitos para a indústria fonográfica brasileira. Naquele momento, tudo era experiência e criávamos ilimitadamente", diz.
Paulo, assim como Jodele, credita à Rede Globo o título de Maior Escola de Televisão do Brasil. Na verdade, diz ele, "é a maior do mundo". Por outro lado, o diretor lamenta que, no país, não exista uma gama de opções para quem quer seguir carreira e não tem o famoso QI (Quem Indica).
"É um absurdo, mas não existe ensino especializado. Na América do Norte, logo no segundo grau, o estudante já pode escolher o que vai querer ser no cinema: ator, diretor ou fotógrafo. Aqui, ou você aprende sozinho ou nada", completa.
Publicitário e diretor de videoclipes e curtametragens, o carioca Marcello Sartori defende a realização de vídeos e programas a baixo custo, o que chama de Guerrilha Filmes. Para ele, que, eventualmente, assina a direção de curtas e documentários ao lado de Marcelo Langme, co-autor do projeto, é possível conceituar e realizar excelentes idéias com orçamentos curtos.
"O Dogma R$1,99 é a nossa base. Hoje, com o uso de ferramentas digitais, temos acesso a idéias e a praticamente tudo o que é necessário para realizarmos uma boa produção", diz ele, que fez seu primeiro filme, vencedor do Festival Nacional de Cinco Minutos de 1996, com uma câmera caseira e uma ilha de edição de vídeos amadora. "Na verdade, um bom roteiro e uma realização criativa, dentro da sua realidade de produção, sempre fazem a diferença", garante.
Sartori vai além e diz que, hoje, a mídia não gerencia mais a arte, graças ao advento dos novos e poderosos canais de distribuição como o Youtube, entre outros. Para ele, os papéis se inverteram e a arte é quem gerencia a mídia. "Hoje, é possível veicular seu trabalho sem depender de mais ninguém. É fazer e lançar. A resposta, só o público pode dar", encerra.
DIRETOR DE FOTOGRAFIA
O diretor de fotografia, dizem os mais românticos, é o Salvador Dali de uma produção audiovisual, pois, através de seu olhar, de sua criatividade e sua relação com a obra é que cores, planos e intensidade de uma cena surgem. Ele, assim como ocorre no cinema, na TV ele é chamado de fotógrafo.
Responsável direto pela "cara" das imagens de um programa ou de uma transmissão ao vivo, seu papel é de extrema relevância em boa parte dos produtos exibidos por uma emissora. É ele quem "clica" os momentos, ilumina e concebe as características estéticas de cada projeto.
Muito antes de assinar a direção de fotografia de programas de auditório, reality shows, novelas, documentários e videoclipes, Ricardo Fujii viveu diversas experiências profissionais, algumas delas como iluminador. Sua estréia foi no comando de um dos canhões de luz, da primeira edição do Rock In Rio, realizada em 1985, na Cidade do Rock, no Rio de Janeiro.
Na época, com 14 anos, ele conheceu Peter Gasper. Aliás, Fujii foi assistente do lighting designer por 10 anos, até que entrou para a TV, em 97, convidado pro Paulo Trevisan, quando esse dirigia programas como Amigos & Amigos e Sandy & Junior.
Segundo ele, que, durante muitos anos trabalhou para a Rede Globo e, recentemente, assinou a direção de fotografia das novelas Caminhos do coração, Vidas opostas e Prova de amor, todas da Rede Record, para cada produto existe uma luz com uma necessidade técnica e artística específica.
Ricardo diz que, como o produto televisivo é consumido diariamente, a história da iluminação na TV acabou criando uma semiótica para a luz. "Num país como o Brasil, onde o consumidor espera ter na mesma hora, no mesmo canal, o mesmo produto, é claro que, já que tudo se repete, manter a linguagem é sempre mais prudente", diz, e faz uma ressalva: "É importante lembrar que existe, na própria TV, espaço para experimentar e arriscar novos conceitos".
Para ele, quem define o papel do diretor de fotografia na TV é o diretor, "seu cliente mais direto". "Em alguns casos eu só ilumino a cena em outros eu fotografo", explica.
Outro diretor de fotografia que tem histórias pra contar é o paulistano João Alberto Curan. Curan, como é conhecido no meio, começou sua carreira ao lado de Césio Lima na empresa Somlux, de São Paulo ainda nos anos 80. Naquela época, fez a iluminação de programas da TV Globo de São Paulo que foram líderes de audiência em seus segmentos, entre eles, o TV Mulher e A Turma do Balão Mágico.
Com passagens pela extinta Rede Manchete e pela Band, onde implantou a iluminação do Programa H, que revelou o apresentador Luciano Huck, ele hoje trabalha no canal Polishop, que tem em sua grade diversos programas de telemarketing, e faz parte da equipe de profissionais da Rede TV.
Na emissora desde 99, Curan é quem cuida da luz de todos os programas, do Superpop, de Luciana Gimenez, aos telejornais diários, passando pelos programas de televendas, sua especialidade.
Ao falar da profissão que exerce, faz questão de não medir as palavras: "o diretor de fotografia é o principal responsável pela linguagem visual de um produto televisivo. Cabe a ele dar a temperatura ideal a cada quadro. Toda a dramaticidade da cena está nas suas mãos. É preciso estar inspirado e saber muito bem que tipo de linguagem aquele quadro quer passar para o telespectador", diz.
A iluminação, para ele, é também a arte de fazer e trabalhar as sombras. Por isso, alerta que é preciso estar sempre atento ao avanço tecnológico. "Hoje, temos equipamentos, como o HDTV, que modificam bastante a forma de pensar a luz. Quem não estiver em dia com a tecnologia, certamente não dará conta de um bom serviço", diz.
DIRETOR DE IMAGENS
"Corta pra 02, volta pra 14. Na hora em que o cara for solar, você passa pra 11 e fica nela. Depois volta pra 01". Cortar, cortar e cortar. Selecionar, muitas vezes ao vivo, entre diversos momentos distintos, ou melhor, entre diversas câmeras, o que há de mais importante para o telespectador.
Essa é, a grosso modo, a tarefa principal de um diretor de imagens. É como o capitão de um time de futebol, que está em campo atuando ao mesmo tempo em que faz a interface entre o técnico e seus companheiros, no caso, o diretor e os demais profissionais.
O paulista Daniel dos Santos tem na bagagem muitos trabalhos como diretor de imagem, sendo, boa parte deles, em musicais, espetáculos de dança, ao vivo e premiações. Entre os mais importantes estão as transmissões do programa Bem Brasil, da Rede Cultura de São Paulo, o Rock in Rio III e dezenas de especiais musicais da MTV, tendo boa parte deles transformada em DVDs.
Ele começou sua carreira na MTV, em 1993, trabalhando como operador de Tele Prompter. E foi justamente na emissora que se firmou como um dos mais requisitados profissionais de sua área, passando, dois anos depois, a assinar a direção de imagens de produtos de sucesso da casa, como o Acústico MTV, o Video Music Brasil e o Ao Vivo MTV, entre muitos outros.
Para o profissional, o ideal é que o diretor de imagens de um show ao vivo, por exemplo, conheça bem o repertório do artista com quem vai trabalhar, pois, segundo ele, "será preciso estar à frente dos músicos para selecionar os planos de câmeras e evidenciar seus destaques em cena", diz.
Daniel conta que, sempre que pode, decupa as músicas durante as semanas que antecedem a gravação e, com isso, se intera com eles. O diretor diz que "é preciso estar junto dos músicos, saber qual deles vai solar em que hora, quando chegará a hora do refrão, etc".
Levar um espetáculo ao vivo para a casa das pessoas é, ainda segundo ele, um tremendo desafio. "É preciso preservar o clima das apresentações ao vivo a fim de que o produto televisivo não se torne frio. Essa é a cachaça", diz Daniel, que, há algum tempo, vem assumindo a direção de diversos projetos em que trabalha, como os DVDs de Nenhum de Nós, Jammil, Timbalada, Banda Eva e Daniela Mercury, sendo esse último, finalista do Grammy.
EDITOR
O editor é aquele que...bem, imagine um quebra-cabeça com centenas de peças. No início, quando todas estão espalhadas pelo chão, pode parecer impossível reuni-las e, com isso, formar uma única imagem. Mas sabemos que, com dedicação, se chega lá. Taí, esse é o personagem em questão.
O carioca Sacha Bastos é o exemplo de editor de imagens que chegou à carreira por meio de migração. Começou a trabalhar como produtor da Youle Filmes, no Rio, e acabou se tornando editor de vídeo da casa. Contratado depois de pouco tempo atuando como estagiário, ele aprendeu a arte da edição sem passar por qualquer curso especializado, "na marra", como faz questão de dizer.
Editor de diversas chamadas e produtos exibidos pelo Universal Channel, Sacha também faz clipes de merchandising para a gravadora Som Livre e ainda trabalha em institucionais de empresas, feiras e convenções, entre outros clientes. Para ele, um bom editor tem de estar atento aos clichês e deve investir no diferente e no inovador, ainda que sua criação seja proveniente de algo já existente e público. "É importante ter muitas referências, com o intuito de estar sempre criando algo novo e não fazer o que todos fazem, que por sinal é muito mais cômodo", sugere.
Mesmo sendo novo na profissão, Sacha dá dicas para quem deseja entrar no seu universo. "Caiam de cabeça e tentem descobrir se é realmente isso que querem para suas vidas. Não tenham medo de trabalhar muitas horas por dia ou todos os finais de semana durante um bom período. A evolução do profissional de edição depende totalmente da prática", conclui.
CURSOS LIVRES E UNIVERSIDADES VALORIZAM PROFISSÕES
Aos cariocas interessado em se especializar em Direção, a Escola de Cinema Darcy Ribeiro, a Academia Internacional de Cinema (AIC) e o Laboratório Estação são algumas das instituições que oferecem cursos livres na área. Em São Paulo, também há cursos do gênero na AIC, na Escola São Paulo, no Senac, na Cineart e na Escola de Cinema.
Para quem deseja a área de Direção de Fotografia, o Ateliê da Imagem e a Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), do Rio de Janeiro, são a saída, enquanto que, na capital paulista, a Escola Internacional de Cinema acaba sendo a melhor opção. Em Salvador, na Bahia, há o Laboratório de Fotografia da Universidade Federal da Bahia, a UFBA.
Quem quiser ter o diploma universitário, as faculdades de Cinema e de Radialismo também são indicadas. Nelas, a exploração da teoria acaba oferecendo base para quem nunca se aventurou por esse universo.
No Rio de Janeiro, os cursos de Cinema da Universidade Federal Fluminense (UFF), da Pontifícia Universidade Católica (PUC), da Universidade Estácio de Sá e da Universidade Gama Filho são os mais procurados. Em São Paulo, o ideal é procurar a ECA/USP, a Universidade Metodista de São Paulo, a FAAP, a Universidade Anhembi Morumbi ou a CEUNSP.
Em Minas, a PUC também é a opção, mas há cursos na Escola de Cinema Daller, em Belo Horizonte e de graduação em Tecnologia em cinema TV e mídias digitais na Universo, em Juiz de Fora. Na Bahia, o curso de Cinema mais indicado é o da FTC.
Já em Brasília, as saídas são a Universidade de Brasília (UnB) e a IESB. Quem estiver no Rio Grande Sul e quiser uma especialização em Cinema pode procurar a pós-graduação em Produção Cinematográfica da PUC local.
Quem optar por cursar Comunicação Social no Rio deve se matricular nos vestibulares da UFRJ, Facha ou da UniverCidade, entre outras. Na capital paulista, as opções são a FAAP, a ECA/USP, a PUC e a Universidade Anhembi Morumbi.
Para aqueles que pretendem trabalhar com edição de imagens, há diversas opções nas capitais. No Rio, existem os cursos de montagem na Escola de Cinema Darcy Ribeiro, no Senac, na Fundição Progresso e até mesmo no CCAA. Já em São Paulo, a oferta é maior: há cursos disponíveis na Universidade Ibirapuera, no Centro Cultural Pinnacole Home, na AIC, na Escola Livre de Cinema e Vídeo, na Universia e no Impacta. No Senac de São Paulo também há um curso de bacharelado específico para a área.
Mais informações:
www.escoladarcyribeiro.org.br
www.rj.senac.br
www.sp.senac.br
www.faculdadeccaa.com.br
www.fundicaoprogresso.com.br
www.espm.br
www.facha.br
www.ufrj.br
www.uff.br
www.usp.br
www.estacio.br
www.escolasaopaulo.org
www.puc-rio.br
www.puc.br
www.univercidade.br
www.ateliedaimagem.com.br
www.ugf.br
www.faap.br
www.estacaovirtual.com
www.escoladecinema.com.br
www.cineart.com.br
www.aicinema.com.br
www.portal.anhembi.br
www.ibirapuera.br
www.impacta.com.br
www.escolalivredecinema.com.br
www.pinnaclesyshome.com
www.universia.com.br
www.ceunsp.edu.br
DECRETO EM 78 REGULAMENTOU A PROFISSÃO
Há 30 anos, os radialistas reivindicaram e conquistaram, com o recolhimento de subsídios, a regulamentação de sua classe. Naquela época, era considerado profissional aquele que tivesse diploma de curso superior na área, diploma ou certificado correspondente às habilitações profissionais ou básicas de 2º grau - quando existente - ou atestado de capacitação profissional necessariamente emitido pela Delegacia Regional do Trabalho do Ministério do Trabalho. O radialista é profissional que desenvolve atividades de radiodifusão no rádio ou na TV.
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