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sexta-feira, 1 de dezembro de 2006
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Lugar da verdade |
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"O equalizador tá mexendo sozinho."
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por Enrico de Paoli
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Então, estamos mixando uma bela música e claro que a maioria de nós tende a fazer o que a gente aprendeu com alguém. Ou o que simplesmente estamos acostumados a fazer. Novamente estou falando do fantasma chamado paradigma, que nos persegue.
Quem viveu a transição do estúdio analógico para o digital sabe que, há não muito tempo, mesas com automação eram artigo de muito luxo. Como tudo no universo analógico, pra funcionar, tem de haver os componentes físicos. A automação das mesas limitava-se a faders e mutes através de deslizantes motorizados ou VCAs (voltage controlled amplifiers). E como tudo real, não era nada barato. Então, naquela época, engenheiros podiam memorizar nos computadores da mesa apenas o volume e on/off de cada canal. Isso inevitavelmente criou um hábito, que se transformou no paradigma da mixagem estática, ou bem limitada.
Ficamos aproximadamente duas horas equalizando o som do bumbo. esse tempo todo, porque o timbre que se encaixaria na música toda nunca chega. Na intro, o baixo não toca, e o bumbo é tocado bem leve. Quando chega o refrão, chutes à pênalti são disparados contra o pedalzinho e, claro, o som é outro. A nova geração dos engenheiros tem uma alternativa pra isso: o sound replacer. Simples, não? Joga fora aquele timbre que o engenheiro de gravação ficou horas meticulosas captando e substitui por algo usado em várias músicas da última novela. Pelo simples hábito, naturalmente sem culpados, de que automação é para volumes.
Iniciantes tendem a perguntar "qual o jeito certo de fazer algo". E, muitas vezes, o tal "jeito certo" só é assim porque antigamente era o único jeito. Bem-vindos à era digital. A mixagem no computador onde temos automação total, de qualquer coisa. Ora, mas pra que eu quero automação num equalizador do bumbo? Simples. Porque assim você pode compensar aquela falta de médias altas quando o baterista tocou fraquinho na introdução e segurar essas mesmas médias altas e talvez somar um grave quando ele quase furou a pele no refrão. Muito bem, estamos falando de um bumbo que precisa de duas equalizações durante a música. Mas e se o problema for na voz ?
A voz não pode ser substituída por um sample. Pode ser que, na introdução o cantor tenha emitido com menos pressão e, ainda tímido, virava um pouco o rosto do microfone, para tentar ler a letra da música. Acontece que, se ele virar o rosto do mic, perdem-se agudos e médias altas. Porém, se ele se afastar do mic, perdem-se graves. Pois bem, hoje devemos considerar um sistema de gravação em computador como um ferramenta onde quase tudo é configurável, automatizável e possível. Portanto, podemos abrir um plug-in de equalização de seis bandas e habilitar a automação para o ganho de todas elas. Vamos a rápidos exemplos de como isso pode ser útil:
Aquele bolo de grave em algumas sílabas pode ser facilmente resolvido com a banda de equalização setada entre 125 e 250 Hz. Essas freqüências só precisam ser atenuadas nos momentos em que esse grave incomodar. Aquela voz encaixotada, anasalada, pode ser resolvida com freqüências entre 400 e 500 Hz, nos momentos da mix em que se fizer necessário. Bem, chegou o refrão e a cantora sobe uma ou duas oitavas pra emocionar, a voz perde então todo o corpo e fica totalmente estridente, ferindo os ouvidos... Não tem problema. Justo nessa hora podemos conter por volta dos 3500 Hz e adicionar entre 160 e 250 Hz para sustentar o corpo. E aquele sibilado que continua incomodando em um ou dois momentos da música, mesmo depois que você ficou horas regulando o de-esser ? Nesses momentos, você automa uma banda do EQ setada para 6-7 kHz (tipo assobio), 9-10 kHz (ssssssssss) ou 11-12 kHz (fffffffff)
Um bom hábito pode ser timbrar a voz o máximo possível com o processamento necessário e então inserir um novo EQ no track apenas para automação. Não há motivos para timbres de voz inconstantes durante a música. Temos equalizadores à vontade... Eles mexem sozinhos.
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Enrico De Paoli - Após ter tido a chance de trabalhar com artistas como Ray Charles, Djavan, Stanley Jordan,Cidade Negra e Big Joe Manfra, Enrico De Paoli hoje mixa e masteriza CDs e DVDs em seu Incrível Mundo Studio. Visite www.EnricoDePaoli.com ou escreva para cartas@enricodepaoli.com.
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SOBRE O AUTOR |
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Enrico De Paoli é engenheiro de gravação e mixagem ou sound designer. Agora com seu INCRIVEL MUNDO das MIXAGENS, recebe projetos de todo o país para serem mixados, de forma que o cliente fica online
Para entrar em contato, escreva para cartas@enricodepaoli.com.
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